O relatório federal de Avaliação Nacional do Clima, produzido por mais de uma dúzia de agências governamentais e cerca de 750 cientistas, revela os efeitos físicos, mentais e financeiros prejudiciais das mudanças climáticas nos americanos. Surpreendentemente, aqueles que menos contribuíram para o problema são os mais afetados, incluindo pessoas negras enfrentando enchentes no sul e minorias suportando um calor escaldante nas cidades.
O presidente Joe Biden, durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, destacou a importância desse relatório ao afirmar que o mesmo apresenta, de forma clara e científica, como as mudanças climáticas estão impactando todas as regiões e setores dos Estados Unidos. Biden alertou que ações mais enérgicas são urgentemente necessárias e que a complacência não pode ser tolerada.
O ano de 2023 estabeleceu um recorde de eventos climáticos extremos que causaram prejuízos acima de um bilhão de dólares, com enchentes, incêndios e tempestades ocorrendo aproximadamente a cada três semanas. Na década de 1980, em comparação, os Estados Unidos experimentavam apenas um desastre de bilhões de dólares a cada quatro meses.
As mudanças climáticas estão impondo cada vez mais custos aos americanos, com o aumento dos preços dos seguros relacionados ao clima e de certos alimentos. Os custos médicos também estão aumentando à medida que mais pessoas enfrentam as consequências climáticas, como ondas de calor extremas, como mostra o relatório.
Biden destacou que testemunhou pessoalmente as devastadoras consequências das mudanças climáticas ao visitar áreas afetadas por furacões históricos, enchentes e incêndios florestais. Ele classificou como "tolice" a negação dos impactos das mudanças climáticas por alguns republicanos. O presidente enfatizou que este verão e outono têm sido os mais quentes desde que os registros globais começaram a ser mantidos no século XIX, e alertou que os impactos só tendem a piorar, aumentando em frequência, ferocidade e custo.
No ano passado, desastres naturais causaram 178 bilhões de dólares em danos nos Estados Unidos, atingindo com mais severidade os mais vulneráveis.
Essa avaliação é a quinta do gênero divulgada pelo governo norte-americano desde o ano 2000. O relatório passou por revisão por pares realizada pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina.
A cientista atmosférica Katharine Hayhoe, coautora do relatório desde a segunda avaliação, afirmou que a versão mais recente reflete os avanços mais recentes na ciência climática e pode ajudar formuladores de políticas e empresas que trabalham na redução de emissões e adaptação às consequências de um mundo em aquecimento.
"Agora podemos documentar os riscos que enfrentamos por grau de aquecimento", disse Hayhoe. "Podemos quantificar até que ponto as mudanças climáticas estão impulsionando nossos extremos climáticos sem precedentes e estamos começando a compreender a vulnerabilidade de nossos sistemas, desde fatores socioeconômicos até a segurança nacional."
O relatório também aborda os riscos à segurança nacional das mudanças climáticas, à medida que os países competem por recursos necessários na transição energética. A competição com a China por minerais, por exemplo, provavelmente aumentará as tensões entre os dois países nos próximos anos.
A migração climática também é apontada como um alto risco à segurança até 2030, já que pessoas vivendo em nações vulneráveis ao clima buscarão atravessar a fronteira para os Estados Unidos em busca de segurança, conforme alerta o relatório.
As descobertas desse estudo podem incentivar formuladores de políticas locais e estaduais a considerar maneiras de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas, como redesenhar sistemas de esgoto para melhor drenar as águas das ruas das cidades propensas a enchentes, criar centros de resfriamento em cidades vulneráveis ao calor ou ajudar hospitais a planejar o aumento provável de doenças transmitidas por vetores, à medida que o aquecimento encoraja mosquitos e carrapatos a se moverem para o norte em novas áreas.
Embora o relatório exponha os desafios e ameaças causados pelas mudanças climáticas, também aponta para a direção correta. Com o fechamento de usinas de carvão e a substituição por gás natural e energias renováveis, as emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia nos Estados Unidos caíram cerca de 12% entre 2005 e 2019, mesmo com o crescimento econômico e populacional.
"Estamos indo na direção certa, mas queremos fazer mais, mais rápido", disse Ted Schuur, professor de ecologia de ecossistemas da Northern Arizona University, que não esteve envolvido na redação do relatório.
Em resumo, o relatório destaca a necessidade urgente de ação para combater as mudanças climáticas e minimizar seus impactos devastadores na sociedade americana. A conscientização e a adoção de políticas eficazes são cruciais para a proteção do meio ambiente, a segurança nacional e o bem-estar de todos os cidadãos.